segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Terapia Cognitivo Comportamental e o Envelhecimento

De acordo com a terapia cognitivo-comportamental o foco de atuação do terapeuta é sobre os pensamentos deflagrados por uma dada situação estimulante, uma vez que tais pensamentos geram os sentimentos e os comportamentos que caracterizam a relação do indivíduo com o ambiente que o cerca. 
Em relação a questão da terceira idade, trata-se de um período no qual um conjunto de situações estimulantes pertinentes a esta faixa etária podem trazer pensamentos e sentimentos muitas vezes negativos. Como fatores direta ou indiretamente responsáveis pelas dificuldades enfrentadas nessa fase da vida podemos citar: 

a) Esteriótipo negativo do idoso - persiste um conjunto de crenças a sobre sobre a terceira idade que caracterizam um estereótipo negativo do idoso. 
Ex: " Velhice é a época da regressão" 
" É o período no qual as funções se tornam mais lentas"
 
" O idoso não tem condições de trabalhar"
 
" O idoso não tem vida sexual, isso é coisa para jovens."
 
" O idoso é feio."
 
" O idoso é um ser dependente de outros, tornando-se um peso para esses."
 
" O idoso é esclerosado, não sabe o que fala"
 

Essas crenças precisam ser reavaliadas, discutidas e substituídas por outras mais adequadas às reais condições do idoso e a repercussão desses preconceitos na vida deste deve estar bem clara para o psicólogo. 

b)
 Doenças crônicas: Doenças do coração, diabetes, reumatismo, osteoporose, artroses e etc. Nesses casos o uso de técnicas de reestruturação cognitiva propostas na TCC levam o cliente a perceber que na maioria das vezes seus problemas não são tão limitadores ou humilhantes quanto ele acredita. 

Entretanto, o idoso pode enfrentar o prolongamento de uma existência meramente vegetativa ou próxima dessas condições. Nesses casos o psicoterapeuta deve ter uma atitude empática com as dificuldades enfrentadas mas deve reforçar positivamente as mínimas potencialidades do cliente e motivá-lo para dirigir suas forças para o que pode fazer.
 

As técnicas de relaxamento podem ser úteis assim como reatribuições cognitivas, quando o cliente acha que sua doença é uma espécie de punição por atos do passado. A aproximação da família e pessoas queridas é fundamental e o psicoterapeuta deve agir ativamente no sentido de facilitar a resolução de conflitos antigos, estimulando a compreensão e mesmo o perdão entre as partes envolvidas.
As perdas de visão e auditivas podem ser amenizadas com recursos mecânicos, como óculos e aparelho para surdez. Investimentos na aparência ou na melhoria da qualidade de vida ( cirurgias ortopédicas ou oftálmicas) devem ser estimulados, desde que não hajam contra-indicações e os riscos sejam bem avaliados.

c) A aposentadoria . O paciente deve ser estimulado a procurar outras ocupações que possam lhe trazer alguma realização como: trabalhos voluntários alternativos, novas formas de lazer ou mesmo uma nova atividade profissional. Muitas vezes a auto-estima do indivíduo sofre um baque porque a nossa cultura supervaloriza a produção.

d) Saída dos filhos de casa. Mais uma vez o paciente deve ser estimulado a criar uma nova rotina que envolva outros interesses. Além disso é importante verificar junto com ele outros objetivos de vida, além da criação dos filhos. 
e) Viuvez, mesmo quando ambos brigavam muito. Ao contrário do que se pensa, não são apenas aqueles "casais modelos" que sofrem com a viuvez. Casais que brigam frequentemente e permanecem juntos anos, ainda que reclamando bastante um do outro, sofrem muito a morte do(a) companheiro(a), pois estão habituados a essa estimulação emocional e o afeto existe, mesmo nessa aparente turbulência do relacionamento. A perda de amigos e parentes também é vivida intensamente, por levar o idoso a se deparar com a eminência de sua própria morte e ter que se adaptar à vida sem a presença de pessoas com quem ele convivia. 

f) Perda de autonomia. Com alguma frequência os filhos acham que devem gerenciar a vida de seus pais idosos e vão pouco a pouco retirando sua autonomia financeira e de decisões. É importante desenvolver um treino assertivo para que esses pais possam limitar atitudes abusivas, expressando seus sentimentos e necessidades. 

O sucesso da terapia depende do engajamento do cliente e de sua disponibilidade para mudanças. Alguns usam o espaço de terapia para desabafar ou buscar uma aliança com o terapeuta para culpar fatores externos por suas dificuldades. Nesses casos, quando o terapeuta cobra a responsabilidade do próprio pelo rumo de sua vida e suas relações, o cliente costuma interromper o tratamento. 
A alta ocorre quando ambos julgam que o motivo da queixa foi superado e os objetivos atingidos. Em quadros de demência ou transtornos de personalidade, o acompanhamento médico e familiar é indispensável.
 


Fonte: Aspectos Biopsicossociais do Envelhecimento e o Modelo Cognitivo-Comportamental de Psicoterapia (Monique Bertrand)





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